O Renascimento significa
renovação, renascer e foi assim mesmo que ocorreu, uma mudança brusca no
processo social, econômico até o domínio da cultura e das artes. As maneiras de
pensar as práticas culturais, os ideais éticos, as formas de consciência
religiosa, a arte e a ciência sofreram alterações.
A Idade Moderna se
localiza entre os séculos XIV e XVII e nela foram feitas muitas descobertas
importantes para a humanidade. Os europeus fizeram grandes navegações;
conquistaram a África e a América; criaram um meio mecânico de copiar textos (a
imprensa); desenvolveram a atividade comercial; desenvolveram as cidades, além
de retomarem a pesquisa da natureza em diversas áreas algo interrompido pela
Idade Média dando assim origem à ciência moderna.
O Renascimento
trouxe uma mudança em relação à visão de Deus, quando a filosofia e a ciência
se separaram da teologia. Passou-se a valorizar mais o homem, colocando seus
interesses, suas necessidades e, principalmente, suas potencialidades em
primeira ordem. Os homens passaram a investigar a natureza por meio dos
próprios sentidos, da observação, dos experimentos e de suas experiências de
vida.
A arte foi um dos
meios de expressar a reorientação do mundo em torno desses novos valores. Os
pintores renascentistas estavam fascinados pela idéia de que a arte poderia ser
usada não só para contar a história sagrada de uma forma comovente, mas também
para refletir as experiências do mundo real.
Como em todos os
movimentos houveram características marcantes, no renascimento não foi diferente, as principais foram:
racionalidade, ideal humanista, perspectiva, dignidade do ser humano, busca
pela realidade, claro-escuro ou jogo de contraste de luz e sombras,
individualismo e a reutilização das artes greco-romana. Analisando os escritos
de Leonardo Da Vinci encontramos algumas dessas características claramente.
Em “Como aplicar
cores sobre a tela” Leonardo Da Vinci explica como preparar a tela e quais as
cores e materiais devem ser utilizados para fazer a parte clara e as
necessárias para a parte escura, registrando assim em seus escritos o contraste
de luz e sombra uma de suas mais marcantes características. Vejamos como
descreve esse processo de criação:
O tom
de carne será obtido usando alvaiade, laca e terra-de Colônia, sendo que as
sombras o serão por meio de vermelho e uma pitada de laca, ou, se preferir, de
sanguínea dura.
Quando tiver
acabado de dar as sombras, ponha a tela para secar. Retoque então, em seco, com
laca deixada por muito tempo em seu próprio licor; o que é bom, porque assim
cumpre seu papel sem provocar reflexos. Ou, então, para as sombras mais
escuras, tome goma laca, como no caso anterior, e negro de fumaça, que assim
poderá sombrear muitas tintas, pois a veladura será transparente. Nas partes
claras terá que sombrear sobre as cores de laca [já aplicadas], com laca pura
engomada e sem diluir. Com efeito, ela é aplicada sem diluir sobre o vermelhão
temperado e seco (CARREIRA, 2000).
Através desse jogo
de cores é possível dar uma maior realidade a pintura e realçar o volume dos
corpos, além de demonstrar o empenho de Leonardo para uma representação mais
científica das imagens.
Muitos pintores
renascentistas acreditavam na perspectiva como sendo a base da pintura, aplicando-a
aos corpos e paisagens e formas arquitetônicas.
Com a tendência da
interpretação científica do mundo, os artistas renascentistas, sobre tudo Da
Vinci, utilizava a matemática, a anatomia artística e a perspectiva para
aumentar a ilusão de realidade em suas obras. O uso da perspectiva é explicado
através de exemplos de como ela funciona citando a imagem refletida no espelho,
posição, espessura e profundidade, para que a imagem represente situações
tridimensionais em superfícies bidimensionais.
O ar se
cobre de infinitas imagens dos corpos que nele estão dispersos. Todas elas
estão representadas, todas em uma e todas em cada uma, daí resultar que, se
colocarmos dois aparelhos frente a frente e em um mesmo plano, primeiro se
refletirá no segundo e o segundo no primeiro. O primeiro, refletindo-se no
segundo, leva consigo sua própria imagem e todas as imagens refletidas nele,
entre elas a imagem do segundo espelho. E, assim, imagens dentro de imagens,
até o infinito, de sorte que cada espelho contém em seu interior uma serie de
espelhos na qual cada um é menor que o anterior e nele está contido (CARREIRA,
2000).
Identificamos um de
seus estudos com relação ao sol e a posição das sombras em “Sobre tábuas que
permanecem retas” 45ºb, onde nos mostra o estudo de Da Vinci com relação as
sombras, em como pintar para dar o efeito certo. Dessa forma o artista busca
mostrar que a arte deveria fazer uma representação naturalista com rigor
científico.
No Atl. 139º Da
Vinci deixa bem claro a busca pela perfeição em suas obras, para que os
contempladores admirem e compreendam facilmente seu trabalho.
A
pintura ou representação de figuras há de ser levada a cabo de tal maneira que
os contempladores possam reconhecer sem esforço, e por meio de suas atitudes, a
intenção de seu ânimo. De modo que, se você tem de trabalhar um homem que fale
com excelência, faça com que os gestos dele acompanhem as palavras excelentes (CARREIRA,
2000).
A busca pelo
perfeccionismo provavelmente o impulsionou em seus estudos sobre anatomia. Além
disso, havia a busca pela legitimação do homem como ser criativo e intelectual
e não mais como apenas um mero reprodutor como até então era apregoado pelo
clero e esta certamente era uma das coisas que Da Vinci queria provar a todos.
Mesmo apresentando individualismo
os artistas tinham alguns ideais e características semelhantes como já
mencionei, mas pude perceber durante o estudo para a atividade que havia uma
concepção de exploração de potencialidade e perfeição a qualquer custo, mesmo
que fosse necessário desvendar os mistérios da natureza para que a perfeição
fosse alcançada. Como se fosse necessário provar que o homem tinha agora o
auto-controle de suas realizações e provava sua dignidade.
Enfim, através dos
escritos de Leonardo da Vinci notamos que a arte a qualquer custo deveria
provar aos homens a mudança que ocorria dentro dela mesma, passando de uma arte
mecânica para uma arte que é atividade mental e também a mudança que ocorria no
mundo, mostrando que agora a ciência estava acima de qualquer concepções
políticas e religiosas.
Referências: